domingo, 28 de março de 2010

Sonhos de uma mente Traidora

Eu a vi ali, deitada no asfalto quente e seco, não se importando em saber que os faróis estavam verdes, nem sequer abrindo os olhos enquanto várias lágrimas simplesmente transbordavam. Suas feições eram medonhas, mas em meio àquela coisa toda, bizarra, havia um sorriso amarelo, que em tempos reluzia e parecia ser de verdade. Ela não sorria para mim, isso, porém, eu sabia. Não temia nada, esperava que um carro ou quem sabe um ônibus de luxo passasse por cima de suas curvas serenas. Uma maneira bastante digna de se morrer, acredito. Não entendia como era possóvel querer jogar toda aquela beldade fora, pele morena, cabelos como os de um anjo, que se enrolavam pelos ombros em voltas de um chocolate brilhante. Fiquei imaginando o que se passava por detrás de seus olhos cor de carvão, sua mente deveria estar a mil, e era tudo minha culpa. Num certo momento observei-a enlouquecer, puxar a gola de sua camisa como se o ar lhes faltasse os pulmões, botões rolando pela Via Expressa. Seu rosto fechou-se e contorceu-se de raiva, um ódio que não podia existir de tão poderoso, arranhando-lhe as bochechas com as unhas. Seus pés debateram-se contra o concreto e um agudo grito desengasgou-se de seu peito inflado e pronto para matar. Um chute acertou-me os joelhos quando vi as luzes de um automóvel a aproximar, e pulei sobre seu corpo estendido, coloquei-me a pedir perdão. Ela parecia estrangular alguém, uma outra mulher que a desafiou. Acordei. Sentei-me rapidamente e suspirei ao vê-la ali, deitada, sã e salva. Meu coração batia desconcertamente e num instante se pôs de pé e encarou-me. - O que você ainda está fazendo aqui? Eu falei para ir embora! Seu tapa acertou-me em cheio e cambaleei em direção à porta, onde apanhei as malas já prontas e parti, com a culpa a me dilacerar. Fim.