sábado, 10 de abril de 2010

Naquele Momento

O lugar parecia intocado mesmo depois que um homem barbudo entrou no local. A luz amarela que vinha de cima da escrivaninha deixava tudo mais tranqüilo de uma forma aterrorizante. As janelas abertas, sentia-se o vento da quase manhã passando por todos como um leve sussurro. Infelizmente o silêncio fora quebrado por uma dúzia de vozes, aquilo parecia um show de circo, todos queriam ver, todos queriam tirar fotos. Porém a moça parecia dormir, mesmo sendo o centro das atenções. Nela nada mais que a calcinha, os cabelos lisos caídos livremente por cima do travesseiro, não sei a cor de seus olhos ainda. Entretanto estava triste, dava para ver isso em seu rosto, e na forma como suas linhas estendiam-se sobre o colchão. Nas mãos não havia nada, ou tiraram algo delas, pois davam um ar de vazio; talvez ela tentasse agarrar alguém. Não sei por que, mas no primeiro momento em que a vi deu vontade de sorrir, uma garota tão linda, tão perfeita, seria tão bom tê-la próxima a mim, e no momento seguinte só quis chorar, cair sobre a mesma e saber o que aconteceu para ela estar ali, sem ligar para nada. Ela deixara um bilhete na escrivaninha, talvez tenha escrito antes de ter sido abandonada ali, naquele frio. Ou talvez já esperasse por aquilo, mas eu não podia pegar o bilhete para ler. Aproximei-me dela, e desejei poder estar perto o suficiente, talvez para sentir sua respiração aveludada, ou analisar melhor seus lábios, fazê-la abrir os olhos para mim. Era assim que eu me sentia. Era sempre isso que eu sentia. Era uma pena que nela não houvesse coração algum. Ouvi o homem barbudo chamar-me, creio que pela segunda vez: - Vamos Melrose, pare de criar historinhas e faça logo suas anotações, precisamos levá-la para o necrotério. É, era uma pena.